(São Paulo, BR Press) - Brincalhão e informal, Vladimir Khavinson nem
parece uma das maiores autoridades em medicina da longevidade. Por seus
estudos, o pesquisador e professor russo foi um dos indicados este ano
ao prêmio Nobel de Medicina. Ele está no Brasil participando do I
Congresso de Anti-Aging, entre 07 e 09/10.
Professor da Universidade de São Petersburgo, Khavinson começou a
pesquisar a ação dos peptídeos ou biorreguladores (proteínas naturais
presentes no organismo humano e de animais) há 35 anos, na Academia
Médica Militar, na antiga União Soviética. Num mundo ainda polarizado
pela Guerra Fria, o objetivo era estudar como poderia ser reforçada a
resistência dos soldados. Os testes foram feitos sob diferentes fatores
de stress, como traumas, intoxicação, radiação e também no processo de
envelhecimento.
Descobriu-se que, com o envelhecimento, os biorreguladores vão
diminuindo. Quando eles são administrados ao organismo, as moléculas
iniciam a restauração do órgão-alvo. Os biorreguladores também melhoram
as funções do sistema imunológico e aumentam os recursos de defesa do
organismo. E sua utilização pode aumentar em 25% e 30% a expectativa de
vida. "Fui o primeiro a sugerir o uso desses peptídeos para retardar o
envelhecimento. Essas estruturas mostraram uma atividade biológica
única", disse Khavinson a O Globo.
Revolução celular
Hoje, sem falar da fome e das pandemias, a guerra mais atemporal e
permanente da humanidade tem sido contra envelhecimento. E nesta luta, o
trabalho de Khavinson assume um papel revolucionário. "Longevidade está
intrinsecamente ligada à cultura, que é uma ponta para a evolução",
acredita o pesquisador. "Esta é a grande revolução do século 21 e
depende do aumento dos níveis de educação".
Disciplina
Dos tempos de militar, Khavinson trouxe a disciplina como maior
aliado da longevidade. Independente do acesso às terapias de regeneração
celular com peptídeos – que propicia a preservação e reestabelecimento
das funções orgânicas por mais tempo –, o especialista frisa que, para
viver bem e bastante, o ser humano deve estar conectado à natureza. "São
as leis biológicas que regulam a saúde", afirma. "Estamos conectados
com o sol, por meio da glândula pineal". A frase soa como a de um guru
budista e qualquer semelhança não é mera coincidência.
"Foi numa ilha remota da China, de maioria budista, em que encontrei
gente com a maior qualidade de envelhecimento que conheço: havia várias
pessoas com mais de cem anos, em ótimo estado de conservação", conta o
cientista. O segredo? "A vida deles é simples e regrada". Mesmo
acumulando cargos como presidente da Associação Internacional de
Gerontologia e Geriatria (Seção Europeia), diretor do Instituto de
Biorregulação e Gerontologia de São Petersburgo, consultor da Academia
Russa de Ciências Médicas, vice-presidente da Sociedade de Gerontologia
da Academia Russa de Ciências e autor de mais de 430 publicações sobre o
tema, Khavinson parece levar essa prática ao pé da letra – a julgar por
sua simpatia e extensão produção científica.
Ou seja: baixar o nível de estresse, dormir bem e em horários
adequados, que permitam atividades hormonais noturnas (produção de
melatonina) e diurnas ("a luz da manhã é importantíssima para o
metabolismo"), comer com moderação e a maior variedade possível, dentro
do espectro da produção local ("não adianta comer manga da África na
China nem banana do Brasil na Rússia", frisa), priorizando alimentos
frescos, orgânicos – e, sim, carnes (branca, especialmente peixe, em
maior quantidade). Autoconhecimento e vida social também contam (e
muito) na produção de hormônios aliados à qualidade de vida.
Replicantes
O segredo do trabalho desenvolvido por Khavinson está na telomerase,
uma enzima que permite que células se repliquem sem alterações. A
telomerase repõe os segmentos de telômeros – estruturas constituídas por
fileiras repetitivas de proteínas e DNA – perdidos nas divisões
celulares que ocorrem com o passar dos anos. Isso significa que, havendo
menor morte celular, o corpo tende a manter suas funções orgânicas
preservadas por mais tempo.
O prognóstico é que, até 2020, essa terapia possa ser praticada em
maior escala. Khavinson é tão otimista? "É possível retardar o
envelhecimento ontem", ressalta. Se depender de Vladimir Khavinson seus
conhecimentos serão compartilhados e aplicados globalmente hoje: ele foi
convidado por 10 países para dar consultoria em geriatria e assuntos
correlatos, após uma palestra no Dia do Idoso (01/10), no Palácio das
Nações Unidas, em Genebra.
(Juliana Resende/BR Press)
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